terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um enigma voador não identificado

Cientista brasileiro descobre, na China, que os pterossauros, os grandes répteis do passado, tinham asas cobertas por músculos e o corpo forrado por misteriosos "pelos"

A habilidade de voar evoluiu quatros vezes ao longo dos 3,5 bilhões de anos da história da vida na Terra. Os primeiros seres a decolar do chão foram os insetos, há 400 milhões de anos. As aves começaram a pular de galho em galho há 150 milhões de anos. Os morcegos só surgiram depois da extinção dos dinossauros. Insetos, aves e morcegos continuam voando. Só os pterossauros não. Durante a era mesozóica, entre 220 milhões e 65 milhões de anos atrás, quando os dinossauros dominavam os continentes, os donos dos ares eram os pterossauros, grandes répteis alados primos dos dinossauros – e que se extinguiram junto com eles.

RECONSTITUIÇÃO

Jeholopterus ningchengensis, o pterossauro estudado pelo brasileiro Alex Kellner


A habilidade de voar evoluiu quatros vezes ao longo dos 3,5 bilhões de anos da história da vida na Terra. Os primeiros seres a decolar do chão foram os insetos, há 400 milhões de anos. As aves começaram a pular de galho em galho há 150 milhões de anos. Os morcegos só surgiram depois da extinção dos dinossauros. Insetos, aves e morcegos continuam voando. Só os pterossauros não. Durante a era mesozóica, entre 220 milhões e 65 milhões de anos atrás, quando os dinossauros dominavam os continentes, os donos dos ares eram os pterossauros, grandes répteis alados primos dos dinossauros – e que se extinguiram junto com eles.
Os pterossauros conviveram com as aves, mas eram muito maiores. Se o menor fóssil de pterossauro tinha o tamanho de um corvo, a imensa maioria deles foi maior, bem maior. Foram os maiores animais que já voaram. A bacia no Araripe, no nordeste, era o fundo de um grande lago entre 110 e 90 milhões de anos atrás. Lá foram encontradas diversas espécies de pterossauros, com envergadura de asas que variava de 3 até 6 metros. O maior de todos os pterossauros é europeu. Batizado de Hatzegopteryx thambema, foi achado em 2002, na Romênia. Com um crânio de 3 metros e envergadura de asas de 16 metros, era bem maior que um caça F-16, cuja envergadura é 9,5 metros (para termos de comparação, a maior ave voadora existente é o condor, com 3 metros de envergadura). Daí surge imediatamente a pergunta? Como animais tão grandes conseguiam voar?

O problema da aerodinâmica dos pterossauros surgiu com a descoberta dos seus primeiros fósseis. Em 1801, o naturalista francês Georges Cuvier (1769-1832) cunhou o nome pterodátilo, do grego "dedo com asas", para descrever o estranho fóssil de um réptil dotado de um dedo extremamente longo nas garras dianteiras. O dedo era muito cumprido para sustentar uma asa, que o processo de fossilização não preservou. Desde Cuvier, especula-se do que era feita a asa dos pterossauros. Será que era uma fina membrana de pele, como no caso dos morcegos? Seria coberta por penas, como nos pássaros? Nas últimas décadas, à medida que melhorou a tecnologia à disposição dos paleontólogos, e foram escavados fósseis em excelente estado de preservação – exibindo, além do esqueleto, sinais dos tecidos moles do organismo –, respostas começaram a surgir.

As penas foram descartadas. As asas dos pterossauros eram feitas de membranas, em outras palavras, de tecido muscular coberto por couro. O que mais? Uma das maiores contribuições para saber como eram as asas dos pterossauros acaba de ser fornecida por um grupo de paleontólogos chineses – liderados por um brasileiro! É isso mesmo, um carioca com um pomposo nome germânico: Alexander Wilhelm Armin Kellner. Ou, encurtando, Alexander Kellner. Ou simplesmente Alex. Pesquisador do Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aos 49 anos, Alex é um dos maiores especialistas mundiais em pterossauros. Especialista é pouco. Ele é doido pelos bichos desde moleque, quando começou a estudar seus fósseis com o mentor, o paleontólogo Diógenes de Almeida Campos. Depois de passar 15 anos descrevendo, ao lado de Diógenes, vários espécimes do Araripe, Alex foi estudar pterossauros na atual Meca da paleontologia, a China.

Uma vez lá, Alex ficou impressionado com um fóssil em particular, o Jeholopterus ningchengensis. Ele tem envergadura de cerca de um metro e viveu há mais de 130 milhões de anos no nordeste da China, que era uma região de lagos, como o Araripe brasileiro. Quando aquele pterossauro de nome impronunciável (nem tente ler Jeholopterus em voz alta – eu já desisti) morreu, ele caiu na água e afundou. Seu cadáver foi rapidamente coberto por sedimentos, preservando-o maravilhosamente. Ele foi descoberto, em 2002, pelo paleontólogo Xialin Wang, do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados, em Pequim. Ao estudá-lo, Wang achou que o animal fosse coberto por pelos ou coisa parecida. Em 1971, os soviéticos acharam no Cazaquistão um pequeno pterossauro (45 centímetros) com "pelos" (ou coisa parecida), o Sardes pilosus. O problema é que pelos são exclusividade dos mamíferos, assim como penas são exclusivas das aves – e dos seus parentes extintos, os dinossauros bípedes como os vorazes velociraptores, os astros de O Parque dos Dinossauros (1993). Os demais dinossauros, por serem répteis, podem ter sido cobertos por escamas.



FÓSSIL
A imagem do fóssil estudado por Alex kellner tem cor azulada por causa da luz ultravioleta usada na pesquisa

Em Pequim, Alex decidiu testar todas as hipóteses para descobrir, afinal, do que eram feitos os "pelos" do Jeholopterus. Com a ajuda do alemão Helmut Tischlinger, especialista na análise de fósseis com o uso de luz ultravioleta, Kellner enxergou várias coisas que ninguém tinha percebido antes. Em primeiro lugar, a membrana das asas é formada por pelo menos três camadas de tecido. Ela é muito mais complexa do que sempre se pensou. Não é uma película fina como a do morcego – nem poderia, pois para sustentar o voo de um animal tão grande como o pterossauro, a asa teria necessariamente que ser bem mais espessa. O estudo está nas páginas do prestigioso Proceedings of the Royal Society of London B, em sua edição de 5 de agosto.

"A membrana é formada por três camadas de fibras musculares diferentes, que ficavam embaixo do couro do bicho", disse Alex a ÉPOCA. Cobrindo o couro das asas, Alex afirma que aqueles "pelos" não eram pelos. Também não eram penas nem escamas. Então, o que seriam? "A resposta é: eu não sei. A gente só sabe que não são penas", diz Alex. "Também não são pelos, pois pterossauros e mamíferos são linhagens muito distantes". Achar um pterossauro com pelos seria o equivalente a encontrar um gambá emplumado. Só existe uma certeza sobre aquelas pequenas estruturas do corpo do Jeholopterus que Alex batizou "picno-fibras". Elas deviam ser feitas de queratina, a substância escolhida pela evolução para produzir escamas, penas, cabelos, garras e unhas.

"As picno-fibras não são encontradas em nenhuma espécie viva", diz Alex. "Sua existência deve guardar relação direta com a aerodinâmica do voo dos pterossauros. Estes animais deviam voar bem melhor do que a gente imagina". A visão que os paleontólogos têm do voo de um pterossauro remete ao voo a vela dos planadores, que pegam carona em correntes de ar quente para ascender em espiral às alturas, como fazem os urubus.

Será que todos os pterossauros eram cobertos por picno-fibras ou apenas aquela espécie chinesa? "Acho que sim. As picno-fibras eram exclusivas dos pterossauros", arrisca Alex. "Já vi o mesmo padrão reticulado em outros fósseis do Araripe e de outras regiões. Esta descoberta é prova do pouco que ainda sabemos sobre aqueles grande répteis misteriosos, que dominaram os céus do planeta por mais de 100 milhões de anos".


FONTE: Revista Época (05/08/2009 - 11:12) http://www.epoca.com.br/

Cães foram domesticados na China há 16 mil anos

Estudo afirma que domesticar lobos era uma prática comum dos homens - cachorros poderiam ser usados até como alimento


DESCENDENTES
É possível que os primeiros lobos domesticados fossem usados como forma de alimento por grupos humanos

Estudo publicado esta semana no periódico científico Molecular Biology and Evolution afirma ter descoberto o local e o tempo exatos em que os cachorros foram incorporados à sociedade humana. Sabia-se, antes, que a domesticação dos cães ocorrera no leste da Ásia, mas nunca um lugar preciso havia sido apontado.

Segundo os pesquisadores, os cachorros apareceram há menos de 16 mil anos, ao sul do rio Yangtze, na China. Os resultados da pesquisa também afirmam que, embora tenham uma origem geográfica única, os cães descendem de um "grande número de animais - pelo menos algumas centenas de lobos domesticados".

Liderados pelos cientistas Peter Savolainen, do Instituto Real de Tecnologia (KTH), na Suécia, e Ya-Ping Zhang, da Academia de Chinesa de Ciências, os pesquisadores também afirmam que essas descobertas estão em conformidade com o tempo em que os grupos humanos deixaram de ser caçadores e se tornaram coletores e agricultores, entre 10 e 12 mil anos atrás.

O estudo também sugere que a quantidade de lobos que deram origem aos cães modernos mostra que a domesticação desses animais era uma parte importante da cultura humana na época, e não apenas um fato isolado - mas não eram ainda os melhores amigos do homem. "Os primeiros cachorros, ao contrário dos seus descendentes, depois na Europa, que foram usados como pastores e cães de guarda, provavelmente terminaram suas vidas nos estômagos dos seres humanos", afirmam.



FONTE: Revista Época (02/09/2009 - 11:30) http://www.epoca.com.br

Brancos surgiram na Europa há 5500 anos

De acordo com pesquisadores, a nova cor de pele foi uma vantagem para os povos do norte, que tinham pouca exposição à luz solar

Segundo estudo, as populações que habitaram a Grã-Bretanha e a Escandinávia tinham pele escura até 5500 anos atrás, quando surgiram os primeiros homens com pele branca. O surgimento da nova cor de pele é concomitante à troca da caça e da coleta por atividades agrícolas e pastoreio.

Nessa época, de acordo com os pesquisadores, a cor branca pode ter sido uma vantagem evolutiva, uma vez que é mais eficiente na produção de vitamina D via absorção da luz solar do que a pele escura. A falta do nutriente está relacionada ao desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes, artrite e deficiências no sistema imunológico.

No caso de regiões do norte da Europa, como a Escandinávia, onde a luz solar é escassa no inverno, ter pele branca poderia significar mais chances de sobrevivência. Johan Moan, do Instituto de Física da Universidade de Oslo, um dos autores do artigo científico, a substituição do peixe por outros tipos de alimento determinou a necessidade de aproveitar melhor a luz do sol para suprir a necessidade de vitamina D, noticia o Times.

"O clima frio e as altas latitudes aceleraram o processo de branqueamento da pele. O alimento obtido pela agricultura era uma fonte insuficiente de vitamina D e a radiação solar era muito baixa para produzir o suficiente do nutriente em peles escuras", explica o artigo.

A descoberta está sendo tratada com parcimônia pelos pesquisadores porque a história da colonização da Europa pela espécie humana tem muitas idas e vindas, de acordo com os períodos de glaciação. Segundo os pesquisadores, a região foi colonizada várias vezes nos últimos 700 mil anos.


FONTE: Revista Época (31/08/2009 - 16:13) http://www.epoca.com.br